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O resgate da Tecelagem manual

As etapas do processo manual e sua teia simbólica


A tecelagem encanta pela sua poesia no fazer, sua história ancestral. Tais saberes foram passados de mão em mão em uma necessidade genuína de facilitar o dia-a-dia com utensílios e de gerar acalento ao corpo, adorna-lo tal qual as belas flores de uma planta. Plantas essas que desfiadas viraram fibras e fios possíveis de serem tecidos. Sem deixar de fora da história a pelagem e fibra de animais como a lã e a seda.


A tecelagem se alicerça nas histórias populares e mitológicas. Para o povo originário Huni Kuin (kaxinawá) a Aranha foi quem ensinou a tecelagem aos humanos. Na mitologia grega/romana a tecelagem e seus processos são associados às guardiãs do Destino, chamadas de Parcas ou Moiras, eram três irmãs que cuidavam do fio da vida, fiavam, teciam e cortavam, suas decisões prevaleciam a cima de humanos e deuses, uma alegoria para contar sobre os mistérios que permeiam a vida. Em outra mitologia grega, Aracne era uma uma bela e talentosa moça tecelã e bordadeira, de tão habilidosa desafiou a deusa Atena, qual delas faria a melhor tapeçaria. A humana teceu/bordou uma história que zombava dos romances dos deuses, e ofendida, Atena transformou-a em aranha, "se quisesse tecer, então que tecesse".


No decorrer dos tempos a fiação, a tecelagem e a contação de histórias andaram juntas. São nas rodas de artesãs que a cultura popular foi conservada, o senso de comunidade e o valor dos ofícios manuais para as gerações que se seguem. São os saberes profundos do viver que estão semeados nas histórias, cantigas e cantos de poder e bençãos preservadas nessas rodas.

Quando resgatamos a tecelagem manual, resgatamos toda carga histórica e mitológica que a envolve, enaltecemos suas origens e remendamos subjetividades.


O processo manual da tecelagem perpassa por várias etapas: da tiragem de fios, a preparação do urdume no tear, o tecer dos fios, e retirada do tear para os acabamentos. Abaixo um pouco do processo:


Processo simbólico. Nas primeiras vezes que teci, imersa nas mitologias da tecelagem, pedi pela benção das Aranhas e sua sabedoria com teias perfeitas. Naquele dia fizeram morada no portão de minha casa, e desde então crio com a tecelagem na medida que ela me cria.








Urdume. O Urdume é o conhecido "fio do tecido plano" os fios suporte que conduzem o comprimento do tecido. A tiragem dos fios é planejada e calculada para cada trabalho no tear, os fios escolhidos são medidos e cortados para então serem colocados um a um no tear, formando o urdume.





Tecendo. Após a preparação do tear, inicia o processo de tecelagem. Esse processo acontece pois os fios do urdume são intercalados, e enquanto alguns sobem outros descem e um fio é passado no meio, formando a trama.


Curiosidade. A tecelagem cria tecidos planos pois intercala por cima e por baixo os fios, criando uma trama. Já o tricô e crochê fazem o processo de enlace dos fios, criando tecidos chamados malhas, que são conhecidos pela sua maleabilidade/elasticidade.



Fibras. Junto da preparação do tear normalmente se planeja as padronagens e fibras que serão utilizadas. No entanto, dependendo do que se está criando, há uma fluidez para experimentar outras fibras e resíduos têxteis. Podemos ir da rusticidade de galhos, espigas, folhas e cipós até fios de algodão, lã, linho, seda, juta, refugo têxtil e sintéticos.


Curiosidade. O ato de entrelaçar fibras tem datações pré-históricas, assim como as ferramentas que envolvem esse fazer. Teceu-se usando árvores, galhos e o próprio corpo como suporte dos fios. Posteriormente a criação dos teares de vários tipos trouxe possibilidades de mecanização e extensão do que está sendo tecido. Por fim, o raciocínio do tecer é que permeia tudo, os cálculos por traz das padronagens é que permite o refinamento dessa arte.


Acabamento. Todo o processo de tecelagem manual têm seu tempo pautado no fazer das mãos. Após tecido é hora de retirar a peça do tear e dar acabamento nas franjas através de nós e/ou costura invisível.










Ferramentas. Para além do tear e das mãos, as tesouras, agulhas, réguas e fita métrica, navetes, pentes e pescador de fio são as ferramentas invisíveis que dão suporte ao artesão têxtil.








É o processo como um todo que dá forma às criações, sendo o criador reflexo e espelho do que tece, transformando especialmente a própria vida.

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